Em tempos difíceis...
Era uma tarde entre tantas tardes da nossa rotina. Entre um boletim médico e outro da UTI. Queríamos respostas, não tínhamos, queríamos, melhoras, não tínhamos, até desejamos a morte. Sim ela seria o fim de um sofrimento que assistíamos sem nada poder fazer. A solução dos nossos problemas, nossa vida estava ali, parada, estagnada, não fazíamos nada a não ser sofrer e perguntar, porque o meu pai, porque o nosso pai. Lembro do céu azul, sol brilhando, tanta vida lá fora, e nós cercadas pelo desanimo e a finitude da vida. O hospital tinha um jardim na frente, com árvores, um caramanchão e um banco. Esse cenário foi testemunha de muitas lamúrias, provavelmente as nossas e de tantas outras pessoas. La nós sentávamos, nos revoltávamos, riamos, chorávamos, perdíamos as esperanças, e a encontrávamos novamente. Assim foi, até meu pai partir, acreditamos nós que para um lugar melhor, mais bonito, sem dor. Ele nos ensinou tanto a ser leve, nos ensinou o riso fácil, nos ensinou a começar a descascar bergamota. Fazia aos domingos uma baguete com queijo e mortadela, partia em pedaços triangulares, e quando levantávamos lá estava aquele sanduiche cheio de recheio, um amor em forma de recheio. Consigo ver a cor dourada do pão com o recheio enquanto escrevo. Visualizo eles empilhados cuidadosamente em uma travessa grande. Como eu amava essas manhãs de domingo. Talvez venha dessas experiências minha paixão pelo café da manhã.
E foi assim que tivemos uma grande lição, mesmo quando tudo parecer errado, quando nada parecer ter solução, quando nada do que você possa fazer irá mudar a situação que você está enfrentando, é hora de virar o jogo. Aceite, junte os seus pedaços, e faça melhor. E assim fazíamos, sentávamos no banco, chorávamos, nos revoltávamos e saiamos do banco para tomar café com cuca de damasco, um café fumegante, as vezes nem tanto, o dulçor da cuca abraçava o paladar, acalmava o coração, aliviava os temores. Pensávamos, o dia não tinha sido tão ruim assim. Encontrávamos a paz em meio ao caos, nossos encontros e cafés eram candeeiros na nossa jornada. Aprendemos a encontrar encanto na caminhada, fosse ela como fosse. Estávamos juntas, todas por uma, uma por todas. O que isso tem a ver com nutrição? Tudo! Você pode ter em um pedaço de pão e umahistória de vida contada por ele. Não deixe que o glúten tire isso de você. Permita que a sua história de vida possa ser contada pelos seus sabores, suas viagens, suas amizades, pelo brilho do seu olhar por um pedaço de torta. Não exclua a oportunidade de rechear sua história com as escolhas da serenidade e amadurecimento. Tortas, caminhadas, oração, musica, series, museus, bike, amigos, banhos quentes, sonecas fora de hora. Tudo pode te ajudar a colorir os momentos difíceis. Um respiro, minutos de alivio podem te salvar da loucura da impotência
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